Um dia irei morrer



Um dia irei morrer. É a única certeza da vida.
Não sei quando, nem como. Apenas que o fato irá ocorrer.
O mistério da vida após a morte, ou do que há após ela, caso haja, causa angústia.
O desconhecido nos dá medo. Embora eu não costume pensar nisso. 
Não sei se quando falecer, terei a graça de ir para o céu. Em um local fantástico. de gramado verde, árvores frutíferas, rios e cachoeiras.
Talvez esteja Chopin, Blanca, Lilica, Juma, Xispita, Rabitus, até Duque e Bolinha. Cães balançando o rabo para me receber. Latindo de felicidade.
Quem sabe encontrar muitas pessoas, as que perdi, as que partiram antes mesmo do meu nascimento. Há possibilidade de encaixar as peças do quebra-cabeça.
Uma viagem ao desconhecido, para encontrar velhos conhecidos. E também aqueles que deveria conhecer.
Quem sabe possa andar por gramado verde, jardim com flores, ruas com paralelepípedos ou até rua de ouro. As conversas que a separação da vida impediu que tivéssemos. 
Acho que estaria lá meus avós. Os quatro. Esperando para uma conversa. Para aparar certas arestas. Entender um pouco essa vida. 
Os tios e tias. Primos. Tantos parentes que há muito tempo estavam apenas nas lembranças.
Os amigos que partiram primeiro. As "avós" de consideração. 
Possivelmente haverá o alívio. Entender os males desse mundo. Compreender os motivos de tantas injustiças. E porque tanta gente não se indigna com as injustiças.
Quem sabe haverá espaço para escrever. O reconhecimento que na Terra, com todos os defeitos, sempre procurei contribuir com textos que não distorcessem a realidade. Que não alienasse, que não criassem ao povo uma percepção falsa dos fatos. Sempre pedi a Deus para iluminar o que escrevia e que pudesse realmente contribuir com as pessoas.
Mas peço a Deus, que quando eu morrer, não seja nem antes e nem depois do tempo certo. Do que a natureza aguarda para minha existência.
Peço que seja depois dos meus pais. Nenhum pai e mãe deveria ter a dor de enterrar um filho.
Que eu deixe lembranças boas. Terei o lado negativo, é claro, como todos possuem. Mas espero que fique as lembranças positivas. Que eu tenha a capacidade de plantar algumas sementes boas. Que algum fruto consiga deixar.
Seu eu for pai. Que meus filhos não sejam muito pequenos. Que haja tempo o suficiente para terem grandes lembranças de mim. Que exista tempo hábil para transmitir bons valores.
Que seja possível alguma contribuição com as pessoas importantes para mim. Uma herança singela e perpétua para minhas sobrinhas.
Que eu consiga deixar alguma saudade em quem eu me importo. Que ao menos de vez em quando, haja alguma lembrança. Que não seja indiferente. Que pelo algum peso para ele minha existência tenha. Que eu seja importante o suficiente para ser capaz de fazer falta.
Que as pessoas se lembrem de alguém correto. Que honrava sua palavra. Em quem se podia confiar. 
Espero existir em algum lugar. Mesmo de forma discreta. Um singelo elemento que prove, que a vida, apesar das falhas, das aflições, dos momentos de turbulência, das decepções, das limitações, tenha valido a pena. 



Sobre o Autor: 
Victor Garcia Preto   
Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto.  Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.
             


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