Idealização de alguém


Autor do texto: 
Victor Garcia Preto   
Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto.  Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.

              


A maior merda que se pode fazer é idealizar uma pessoa. Seja quem for. Deixando-a em um patamar inigualável. Se diminuindo inconscientemente ou não, perto dela. 

Nada ou ninguém pode chegar ao seu nível. Porém, é óbvio que essa idealização é uma distorção da realidade. Nenhum ser humano é perfeito. Pode ser duro admitir, mas você e as pessoas que você ama possuem inúmeros defeitos. Da mesma forma, que eu possuo. Não faço esses apontamentos para diminuir ninguém. Há pessoas que são capazes de feitos incríveis, atitudes nobres e deixando grandes frutos com suas obras. Porém, não é perfeito.
Humanizar um indivíduo e entender que se trata de um ser falho é uma forma de amá-lo e se amar. Amá-lo por aceitar suas imperfeições, o lado negativo e aprender a ter respeito apesar de tudo. Se amar, por não se diminuir com relação a ninguém. Aceitar também, seus próprios defeitos. Se alguém se diminui ou diminui os demais por qualquer motivo, não existe uma relação saudável. E toda a falta de equilíbrio causa consequências negativas. Em algum momento. 
Quando essa idealização é feita em uma pessoa que se teve ou pretende ter um relacionamento afetivo, essas questões tomam proporções ruins e peculiares. Muitos relacionamentos não prosperam por um dos envolvidos - ou os dois - projetar no (a) companheiro (a), alguém que não existe. Seja na visão que se tem sobre a outra pessoa ou esperar delas atitudes de alguém idealizado. Inúmeras vezes se compara a pessoa atual com o (a) ex. O pior é que não se analisa a realidade e todas as características, mas a falsa memória que se tem sobre ela. 
O distanciamento é um fator de forte contribuição para esse processo de romantizar alguém ou algo. A mente engana, não reproduz com precisão todos os fatos. Une-se alguns fragmentos. Nesse caso específico, as qualidades são evidenciadas e os defeitos esquecidos (ao contrário também pode ocorrer). Se lembra da cor dos olhos, não de suas ramelas. 
Em outros casos, a idealização faz uma pessoa nunca se sentir capaz de conviver em equidade com o outro. Tendo a sensação de um patamar inferior. Se torna uma servidão e não cumplicidade. Em muitos casos a figura idealizada não tem culpa da falsa imagem construída sobre sua figura. Em outras, contribui e se aproveita do fato. 
Essa visão distorcida e supervalorizada de alguém, provavelmente gera frustrações constantes pelo excesso de expectativa. Além de cobranças constantes e excessivas, muito além do normal, pela imagem de herói/heroína criada. Acredita-se que pode fazer mais do que realmente é capaz. 
Vive-se a sombras de uma ou mais pessoas. Projetando uma vida que não seria possível. Um relacionamento que não se sustenta na prática. Sentimentos não saudáveis. Um falso amor. 
Em outros casos as comparações são com relacionamento de outras pessoas. Projetando em conhecidos casais ideias, que obviamente não existem. Brigas, frustações, atritos são gerados por essa comparação. Normalmente injusta. Pois não há a percepção da realidade, apenas uma distorção causada por erros de conclusão nas observações. 
Em inúmeros casos essa idealização é construída em pessoas falecidas. O tempo, o distanciamento, a ausência física do indivíduo, cria uma mística distorcida sobre a figura projetada. Filhos inseguros, acreditando que jamais farão algo digno como seus pais ou avós. Em situações difíceis, onde a indecisão ou receio se faz presente, se lembram das figuras em que julgam que saberiam exatamente o que fazer. Seus pais podem ter sido pessoas incríveis, de inúmeras qualidades, mas eles também tinham suas falhas, e não necessariamente teriam total controle da situação da forma com que o imaginário projeta. 
A sensação de incapacidade de ter a atitude ou palavra precisa como alguém falecido é danosa. Principalmente porque os tempos mudam. O contexto, a necessidade, a forma de agir também. Uma idealização perigosa, pois é impossível desconstrui-la nesse caso. 
Se constrói a imagem final baseado em fragmentos dispersos, unidos de forma irregular, e que não refletem a conjunta geral. Se cria a expectativa do que não existe, possivelmente nunca existiu e nunca existirá. Sendo uma utopia a não ser buscada, pois foge de qualquer parâmetro lógico.
As falhas humanizam qualquer ser humano. E enxergar alguém com seus aspectos positivos e negativos é fundamental. O amor incondicional aceita - não concordando com todos, e orientando a corrigir no que for possível - o próximo com seus erros, conflitos internos, estupidez. Pais que não enxergam as falhas dos filhos, tendem a não ter uma relação tão próxima e saudável com eles. O oposto também, quando não conseguem reconhecer seus méritos e qualidades. Filhos que entendem que os pais não estão em uma posição intocável de super heróis compreendem melhor seu lado humano, e tende a ter maior respeito. 
Os grandes relacionamentos sobrevivem apesar de.... Apesar dos erros, das falhas, da enxaqueca, dos maus entendidos, dos momentos difíceis. 
Uma realização que se constrói por uma idealização - reciproca ou não, em maior ou menor grau - é fake. Em algum momento o pilar irá se rachar. A água limpará a maquiagem, os filtros, a propaganda. A ilusão se acaba. A visão transmitida em uma noite de gala, de uma pessoa elegante e perfeita irá acabar junto com a noite. Quando na manhã seguinte a mesma pessoa acordará com olheiras, ramelas, talvez mal humor e "bafo". Ninguém é deslumbrante as 6H00min da manhã em uma segunda-feira, quando se tem que se preparar para trabalhar, e iniciar mais uma semana. 
Bem-vindo a vida real. 

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