
Lorena Arndt:
Formada em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pós-graduada em Gestão em Tecnologia da Informação. Espírito Santo. Amo escrever. Escrever dá asas à minha imaginação e trago aquilo que mais desejo e sonho para a minha vida. Escrever é ser livre para expressar o que sentimos. É preencher aquilo que estava vazio.
Uma das coisas que ninguém
gosta de fazer é esperar por algo. Exemplo disso é ficar esperando um ônibus em
um ponto de ônibus. Passam vários carros e nenhum ser humano conhecido para lhe
oferecer uma carona.
E justo no dia que você está ali, o ônibus atrasa três
minutos e a sensação é que ele está atrasado porque é o dia que você precisa
espera-lo. Os três minutos têm sensação de quinze.
Bom, mas continuando, prometo
chegar aonde quero chegar com a história, não de ônibus agora, mas com outro
veículo que será perfeito para o que irei contar.
Em uma bela manhã de
segunda, estava eu esperando o ônibus para ir a outra cidade resolver algumas
coisas. Incrível, como a maioria das melhores histórias acontece quando saímos
para resolver alguma coisa, sempre de forma inesperada algo nos surpreende. Foi
o que me ocorreu naquele dia.
Depois de três minutos atrasado, o ônibus apontou
a uma distância de seiscentos metros de onde estava. Mas, já era alguma coisa.
A sensação de estar atrasada justo naquele dia foi passando.
O ônibus parou e eu entrei.
Por ser segunda-feira, todos estariam trabalhando no horário em que eu estava
saindo, por isso não havia lotação e várias cadeiras estavam vazias.
O
motorista ao menos foi simpático e respondeu ao meu bom dia. Sentei-me em uma
das poltronas do centro do ônibus. Não me recordo o número, pois nunca fui de
respeitar o número da poltrona que colocavam na passagem.
Atrás de mim, estavam
sentados um senhor com um rapazinho, deveriam ser avô e neto. Nas cadeiras da
frente, uma moça dormindo debruçada na mochila. Deveria estar sonhando com
alguma coisa. E à minha esquerda, nas poltronas do outro lado do corredor,
havia uma senhora segurando a bolsa bem segura nos braços, tipo minha avó
quando saía para algum lugar. Devia ter algo valioso na bolsa ou era costume
por medo de assalto.
Minha viagem duraria trinta
minutos. Sempre costumo escutar música quando viajo de ônibus, para distrair e pensar
na vida.
Foi o que resolvi fazer. Abri minha bolsa para pegar o meu fone de
ouvido. Para minha surpresa, eu o havia esquecido em casa.
Que maravilha, meia
hora de viagem para ir, meia hora para retornar, isso é igual à uma hora sem
música. Realmente não era o meu dia de sorte depois do ônibus já ter atrasado
três minutos.
Enfim, deitei um pouco a
minha poltrona e fechei meus olhos. O avô e o neto sentados atrás de mim
conversavam muito.
Não que estivesse me atrapalhando ou eu interessada no
assunto, mas era inevitável não escutá-los. Conversavam alto. Discutiam sobre
alguma coisa. Eu imaginei que fossem coisas de família, mas em um dado momento,
aquilo começou a me interessar. O menino dizia ao avô:
- Vou ser o cara mais feliz
do mundo hoje quando eu compra aquele celular do ano. Ansioso para isso vô...
O avô não respondia nada. Ficou
por uns dois minutos calado, depois que o neto disse aquilo. De repente, o avô
diz:
- Comprar o celular, vai te
fazer feliz Joca?
- Muito vô. Sabe o quanto
precisei trabalhar para conseguir isso. – Respondeu o menino.
O avô continuou:
- Hum, bom. Por quanto tempo
você ficará feliz com o celular? Talvez alguns dias, depois você vai se
acostumar com ele, né? E não vai se sentir feliz por tê-lo.
O menino parecia não ter
entendido muito bem o que o avô quis dizer e perguntou:
- Como assim, vô. O que o
senhor quer dizer?
O avô respondeu:
- Eu quero saber o que você
tem a me dizer primeiro. O que é estar feliz para você?
Joca (prazer, o nome do
menino era Joca), respondeu:
- É ter as coisas que quero,
é perceber que tudo está bem com todo mundo, é não ter problemas... Isso é ser
feliz. Acha que não estou feliz vô?
- Não quis lhe dizer isso.
Quis saber o que é felicidade para você. O que te deixa feliz. Mas, você já me
respondeu. Normal, você responder essa pergunta. Era o que eu esperava que você
respondesse. Eu, na sua idade pensava igual. Mas, a vida foi me mostrando que
eu estava sendo feliz do jeito errado.
Eu estava atenta na
conversa, estava ficando boa e quase perguntei para aquele senhor o que era
felicidade para ele. Sempre gostei de escutar histórias das pessoas mais
experientes da vida. Mas, o menino leu os meus pensamentos e perguntou ao avô:
- Então vô, o que é ser
feliz para você? O que é a felicidade?
Senti o suspiro do avô,
contente, porque era o que ele queria que seu neto perguntasse. Se bobeasse,
era o que ele queria que qualquer pessoa lhe pedisse. E ele respondeu:
- Seu avô Joca, sofreu muito
na vida. Muito mesmo. Não tinha tudo o que queria, passava por vários
problemas, dificilmente surgia um tempo de paz e tranquilidade. A vida quando
eu tinha a sua idade era diferente. Mas, o tempo passou e fui aprendendo que se
eu esperasse ter tudo o que queria para ser feliz e ter uma vida sem problemas,
eu nunca seria feliz. Fui conquistando o que eu podia, e o pouco que conquistei
foi muito para minha gratidão. Nada será fácil Joca, nada nessa vida. Mas, se
tem uma coisa que você não pode, é deixar de ser feliz. Não com bens materiais
que você tem, porque essa felicidade é passageira, assim como nós nesse ônibus.
Somos passageiros aqui, daqui a pouco chegaremos ao destino final e não
estaremos mais aqui nesse ônibus. Quando você acorda pela manhã, você já tem
sua maior felicidade, que é um novo dia com vida. A felicidade está na vida.
Está no existir, no ser, no estar vivo. Busque essa felicidade meu neto e
quando você chegar à minha idade com oitenta anos, vai poder olhar para trás e
lembrar que foi muito feliz em toda sua viagem de vida.
Fiquei admirada com o
discurso do avô. Boquiaberta. Foi melhor do que qualquer música que eu estaria
escutando naquele momento, se não estivesse esquecido meu fone de ouvido. Foram
belas palavras, que me fizeram refletir pelos próximos minutos até chegar ao
destino da viagem.
Quando o ônibus parou,
saltamos. Deixei o avô e o neto passarem na frente. E fiquei os observando. O
andar do neto e o andar do avô. Duas fases de vida totalmente diferentes. E a
passagem de uma fase da vida para a outra é que define a bagagem que carregamos
ao longo dos anos. Depois daquele dia, passei a buscar a felicidade dentro de
mim, pois essa felicidade nunca acaba. Ou é felicidade motorista ou cobrador,
porque passageira não será jamais.
Imagem:
Jason P. Howie
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