Lorena Arndt:

Formada em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pós-graduada em Gestão em Tecnologia da Informação. Espírito Santo. Amo escrever. Escrever dá asas à minha imaginação e trago aquilo que mais desejo e sonho para a minha vida. Escrever é ser livre para expressar o que sentimos. É preencher aquilo que estava vazio.




Em um dia desses qualquer, não me recordo a data, não me recordo o mês, nem o dia da semana. Só me recordo do fato mais marcante daquele simples dia.
Saí para resolver algumas coisas de rotina e, como a tarde estava ensolarada, resolvi sentar em um banco no jardim da minha cidade para descansar e apreciar a paisagem.
Há tempos não parava para olhar para o nada.
De repente, vejo uma criança brincando no jardim. Sua mãe conversava com outra pessoa, enquanto esta criança estava se divertindo.
Fiquei observando a criança, mas sabe aquele momento em que você olha para algo e pensa em outra coisa. Estava assim.
E do nada aquela criança começou a me encarar. Ficava me olhando, e em seguida, foi se aproximando de mim. Sentou do meu lado.
Era uma linda garotinha, com seus cinco anos de idade. Com seu cabelo loiro que nem a Cachinhos Dourados do desenho animado e seus olhos azuis, que pareciam de anjo. Sentou do meu lado e não parava de olhar para mim.
Eu que tinha que ficar olhando para ela, porque ela parecia uma boneca. E falando em boneca, ela segurava uma. Sua boneca de pano estava com a roupa toda rasgada, o cabelo despenteado e toda manchada de tinta. E ela abraçava a boneca.
Do nada ela me pergunta:
– Moça, o que é o amor?
Eu fiquei olhando aquela criança atentamente por longos trinta segundos sem dizer nada. E tentando me perguntar o que eu escutei. Olhei para um lado, não havia ninguém.
Olhei para o outro, não havia ninguém. E essa menina olhava para mim esperando uma resposta. Eu ficava imaginando por que tal curiosidade estava presente nos seus pensamentos. Em trinta pausados segundos me veio à cabeça definições aleatórias de toda a minha experiência do que é o amor.
Eu sabia que existiam vários tipos de amores, mas qual definição explicar a uma criança para que ela entendesse? Sendo mais direta, como explicar a uma criança o que é o amor?
Naquele momento eu gostaria de pegar uma caneta e um papel e começar a escrever, assim como faço. Parece que desenhar palavras no papel é mais fácil do que tocar o coração de alguém apenas falando.
Nesse caso, eu estava conversando com uma criança. Percebendo que eu não falava nada, ela me perguntou:
– Você também não sabe o que é o amor?
Respirei fundo, não querendo decepcionar aquele pequeno ser humano com uma imaginação bem avançada para a idade, perguntei a ela:
– Bem mocinha, eu vou lhe falar o que é o amor.
Afirmei de tom confiante, como se eu entendesse tudo do amor. E na hora, olhei para aquela boneca que ela segurava e aí encontrei a definição do amor. E perguntei:
– Mas antes me responda: você parece gostar muito dessa boneca, não é?
Ela olhou para mim, olhou para a boneca e disse:
– Sim, ela já está com a roupa toda rasgada, com o cabelo todo despenteado e eu risquei ela com canetinha, agora não consigo mais limpá-la. Mas eu gosto muito dela. Tenho várias bonecas novas, mas eu gosto dessa. Aonde eu vou, ela vai comigo.
Ouvi aquelas palavras vindo da voz e do coração de uma criança, foi algo muito lindo, pois consegui ver a sinceridade e a simplicidade no fundo dos seus olhos.
Então completei:
– Isso que você sente pela sua boneca é amor, sabia? Amor é a vontade que você tem de cuidar dela, não importa a roupa rasgada, o cabelo despenteado e o quanto você já a riscou. Mesmo assim, ela está com você e você está com ela.
Aquela garotinha me olhou e sorriu. O sorriso mais sorridente que eu havia visto em alguém. E ela disse:
– Agora eu sei o que é o amor. Eu nunca vou desgrudar dessa boneca, nem quando eu crescer.
Eu acrescentei:
– Nunca deixe de amá-la. Às vezes pode aparecer um risco no amor, como na sua boneca, mas se é amor de verdade, não se torna mancha nunca. Só o amor limpa qualquer rabisco.
A garotinha sorriu novamente, e saiu correndo em direção a sua mãe, que segurou sua mão e foi caminhando para fora do jardim. A garotinha ficou me olhando enquanto caminhava. E eu a observava se distanciando cada vez mais.
Naquele dia, não só defini o amor para aquela criança, como defini o que era o amor para a minha vida.
Ah, o amor!

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