O mito do amor romântico e como ele está arruinando as nossas vidas!

(Imagem: clipe Don't Wait by Joey Graceffa)

       No ocidente, a concepção de amor romântico é conceituado como uma sensação mágica incomparável. Normalmente ele é descrito como um encontro de almas gêmeas que acontece por pura sorte ou predestinação e que solucionaria as angústias e aos desejos da vida do indivíduo. Acreditamos que o amor romântico é o único amor verdadeiro.

       Nas culturas orientais, como a Índia e o Japão, podemos testemunhar que os casais se amam com notável cordialidade, muitas vezes com uma estabilidade que, nós do ocidente, desconhecemos. Só que o amor deles não é o “amor romântico” conhecido por nós. Eles não ditam nos seus relacionamentos os mesmos conceitos que ditamos aos nossos, nem impõem exigências impossíveis ou criam e alimentam expectativas como acontece muito por aqui.


       O mito do amor romântico provavelmente se inseriu na sociedade ocidental lá pela Idade Média. Algumas pistas apontam que tudo começou na literatura por meio da história de amor entre Tristão e Isolda. Não vamos entrar aqui neste mérito. O importante é por em evidência um pouco sobre as estruturas e as influências que este mito legou às sociedades.


Milhões de pessoas desperdiçam enormes quantidades de energia tentando desesperada e futilmente fazer com que a realidade das suas vidas se ajuste à irrealidade do mito.

       Os contos de fadas ainda são utilizados como referência para os relacionamento amorosos. Quando não vemos determinada expectativa em relação ao amor se materializar, costumamos desenvolver uma profunda sensação de solidão e frustração causada pela crença de que somos incapazes de criar relacionamentos afetuosos ou que ninguém presta. O conceito de amor romântico é um dentre os fenômenos psicológicos altamente arrasadores que apareceram na história da sociedade ocidental. Foi um conceito que esmagou nossa mentalidade coletiva e alterou totalmente nossa visão do mundo.


       "Como psiquiatra", diz o psiquiatra americano e escritor bestseller Morgan Scott Peck (1936-2005), autor de The Road Less Traveled, "o meu coração chora quase todos os dias pela horrível confusão e sofrimento que este mito gera”, “Milhões de pessoas desperdiçam enormes quantidades de energia tentando desesperada e futilmente fazer com que a realidade das suas vidas se ajuste à irrealidade do mito”

       Conseguimos observar que o mito do amor romântico está claramente expresso em muitos contos de fadas. Por experiência, todos nós sabemos que os contos de fadas são fascinantes. Elas elaboram o sonho que as pessoas têm de protagonizar uma história de amor perfeita: amores homéricos com príncipes e plebeias, bela adormecida, princesa presa na torre ansiando pelo seu príncipe que surgirá montado em um cavalo branco para salvá-la... Tudo construído para tentar ilustrar o psicológico coletivo de um povo que precisa resolver suas carências e necessidades. O amor e seus personagens vivem aquilo que a todos adorariam experimentar em suas vidas reais.


       No mito do amor romântico, a pessoa amada é vista como a responsável pela satisfação dos desejos e necessidades do seu parceiro. Como que algum tipo de encantamento inibisse a percepção da realidade de forma que a relação passa a representar um perigo para aqueles que fazem parte dela.

       Dentro desse contexto, tudo é muito mais que uma forma de amor. É todo um conjunto constituído por expectativas e idealizações, aonde pessoas e situações reais são inseridas.


       No mito do amor romântico, a paixão prevalece. Surgindo-se, assim, uma ilusão de que a paixão tem todas as soluções dos seus problemas pessoais na vida, como que sua felicidade fosse destinada ao momento em que viesse a viver um grande amor fantasioso. "O outro acaba se virando uma construção, cujos tijolos foram retirados dos insondáveis terrenos de nossas carências e necessidades"



       Nas histórias de conto de fada, os personagens seguem nesta mesma ordem, seguem o mesmo destino. O sofrimento da restrição, a plebeia, maltratada pela madrasta, é proibida de ir ao baile; a dor do borralho, a humilhação das irmãs simbolizando nossos problemas e infelicidades. A fada, então, bondosa, tira a pobre donzela daquela situação e faz uma magia que a possibilita de participar do baile. No entanto, o encanto tem tempo definido. Meia -noite para que o amor aconteça. O almejado príncipe a conhece e cai apaixonado pela moça, que agora aparenta não ser pobre e os resto todos nós já sabemos. 

       Agora, note que nas histórias de amor dessas literaturas, o mito do amor romântico se cria a partir do momento em que a realidade é construída a partir de seres humanos idealizados. O "felizes para  sempre" funciona como uma negação da realidade comum dos humanos, como se fosse um amor distante de ser raro. O beijo no final parece selar uma história em que não haverá limites e aborrecimentos. É toda uma idealização feita sobre os relacionamentos, em que cada um deverá cumprir o seu papel como personagem de uma perfeita história de conto de fadas e viverá feliz para sempre (ainda que sem esforço). O que justifica muitos dos tantos casamentos terminarem em divórcio.


       Isto posto, as pessoas passam a procurar essas coisas em suas realidades. Com fé de que na próxima esquina encontrará seu príncipe encantado. Procuram uma realidade ideal, a pessoa ideal, o lugar ideal, o lugar ideal para trabalhar, o casamento ideal e por aí vai. E o conflito se desenvolve ainda mais quando percebemos que pessoas que sabem que são imperfeitas estão incessantemente buscando pessoas e realidades perfeitas.

       A vida real não corresponde aos contos de fadas. Não encontramos fadas madrinhas que, num toque de mágica, transforma a pobre moça em princesa. O processo humano é doloroso. Olhem, os nossos sapatos não são de cristais, nossos cavalos, mancos; e não temos carruagens nos esperando para levarmo-nos ao destino dos nossos sonhos. O sonho que sonhamos não pode ser uma projeção infértil. Ele tem que estar sempre preso à realidade, afinal, é nela que estamos sustentados.


       Não há nenhum erro em tudo isso. O grande problema não está em sonhar alto. O difícil está em continuarmos de pé quando o o alicerce do sonho não suportar o nosso peso e dele cairmosSomos criados para sonhar alto - ninguém quer crescer confiando no pior -, mas ainda não aprendemos a os manter vivos quando a vida fica difícil. 

       Todas as vezes que deixamos para trás os limites de nossa condição como se eles não existissem e nos cremos ser heróis invencíveis, de alguma forma estamos nos afastando daquilo que pode nos fazer crescer e ganhar experiências. O mesmo ocorre nas relações. Constantemente querermos fazer que o outro seja da medida de nosso desejo. Por algum assunto pessoal não muito bem resolvido, projetamos no outro a perfeição que gostaríamos de encontrar em nós mesmos. A partir do instante que identificamos essa inadequação e percebemos que o outro não é perfeito, desfaz-se o encanto. A Cinderela volta a ser gata borralheira, o príncipe volta a ser sapo, e o que antes dizíamos ser


experiência de amor eterno transforma-se em amor que valeu enquanto durou.

       Amor, contudo, é empenho de superação de limites. É cultivo constante que vivemos na realidade e que nos faz querer continuarmos desejando que o outro continue ao nosso lado. Amar, é puramente um exercício para desvendar o que o outro tem de mais belo, mas também de mais vergonhoso. Amores perfeitos só existem nos contos de fadas. 




Sobre o Autor: 

Leone Bravi  22 anos. Idealizador do blog Papicher. Leonino. De tudo que tenho na minha vida; viajar, amigos e livros são minhas paixões! Mais do que isso, compartilhar tudo o que eu tenho aprendido. Apaixonado pela vida. I make myself.

        

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4 comentários:

  1. Muito verdade isso (pelo menos na minha experiencia). To namorando faz 7 anos e o meu "amor" nao tem muita coisa de romantico, vejo muitos amigos solteiros endeusando meu relacionamento "nossa, vcs dois sao lindos, queria ter o q vcs tem, 7 anos eh praticamente uma vida inteira no mundo gay"
    O que eles parecem ignorar eh que tem bastante esforco e sacrificio meu e do meu namorado, nem tudo sao mil maravilhas e a gente rala bastante pra ficar junto, tem bastante responsabilidade em ambas as partes. Vejo a maioria dos meus amigos solteiros terminando relacionamento na primeira dificuldade, assim q eles se sao conta q o boy nao eh "perfeito" ou que talvez eles se apaixonaram pela ideia de estar em um relacionamento e nao pelo boy em si. Enfim, parece que a maioria das pessoas acha q relacionamento eh fazer sexo todo dia, comer um lanche juntos e ficar de conchinha assistindo netflix, com um cara perfeito que preenche todos os requisitos. Queria q fosse assim, mas pelo menos pra mim (na minha realidade e no meu relacionamento) isso nao acontece todo dia, claro que a gente tem momentos romanticos, mas, na nossa realidade, a gente passa mais tempo coordenando quem vai fazer a janta, quem vai limpar a casa, quem vai dar comida pros gatos, dividindo as contas pra pagar.

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    1. Concordo. Um relacionamento não pode ser 100% perfeito, mas um relacionamento de verdade existe quando se sabe ser feliz mesmo com seus problemas.
      Obrigado pela visita. Abraço. :)

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  2. Adorei o texto, decepções me fizeram quase desistir do amor. Mas agradeço por meus 7 anos de ilusão. Mesmo agora me descobrindo uma pessoa muito diferente do que eu era, com uma história um tanto quanto curiosa tentando ainda encontrar a mim mesma antes de tentar novamente buscar uma relação.

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    1. Vivendo e aprendendo...
      Obrigado pela visita!

      #Compartilha ;)

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