Comportamento
victor
Quando iremos amadurecer?
Não leia ou ouça esse texto pensando em alguém. Reflita primeiro sobre você mesmo.
Quando iremos amadurecer,
encarar a vida com maior sensatez; romper as infantilidades que nos amarram na mediocridade?
O autor deste texto não é melhor do que ninguém. Não está isento de cometer esses erros. Muito pelo contrário. O que se propõe é uma reflexão. Uma imersão interna sobre atitudes e convicções.
A tentativa de superar as amarras que não permitem maior sofisticação dos sentimentos e ideias.
Qual o sentido de nossas ações? Qual verdadeira semente estamos deixando?
Nossas atitudes correspondem as nossas ideias?
Vivemos o que pregamos em nossos discursos?
Somos moralistas quando temos a palavra. Ditamos as regras a serem seguidas nas redes sociais. Somos donos da verdade. Acreditando ter a fórmula mágica para todos os conflitos.
Nos sentimos tão especiais, originais e autênticos.
Neste mundo de redes sociais; dos likes, dos vils, dos filtros; quem é autêntico?
O mundo sempre foi de aparências. Entretanto, neste momento, todas essas questões estão mais acentuadas.
Temos muitas certezas e poucas dúvidas. O que nos mostra quão tolos somos.
Somos pessoas modernas, descoladas, de mente aberta. Seres humanos do século XXI, porém, com cada vez mais inseguranças, medos, momentos de angústia, que muitas vezes nem ao menos sabemos explicar. Crises de ansiedade, fobias, pesadelos. Cada vez mais necessitados de terapias, medicamentos, adornos.
Convictos de nossa evolução, não admitimos para nós mesmos que estamos cada vez mais traumatizados e mimados.
Embora frágeis, desejamos - e em alguns momentos é de fato necessário - mostrar para o mundo nossa força. Aparentar autossuficiência, equilíbrio emocional. Todos almejam a perfeição.
Sem admitir simples erros. Arrotamos nossa ignorância, prepotência, presunção. Em nenhum momento questionamos nossas velhas e arcaicas convicções. Tão pouco os motivos que nos levaram a formá-las. Apontamos o dedo para o vizinho, questionamos as suas convicções, mas nunca ao menos, refletimos sobre as nossas.
Somos os donos da verdade. Se necessário, a vendemos e compramos. Até os fatos óbvios parecem uma simples circunstância de mercado. Não queremos aprender ou confrontar informações. Apenas reforçar nossas velhas ideias, que sucumbem juntamente com o nosso ego.
A falta de interesse em expandir a visão de mundo, a teimosia, a necessidade de se mostrar inteligente ou mesmo a aceitação social.
Podemos até ser boas pessoas, porém, muito aquém do nosso máximo potencial. Gostamos da mediocridade, das conversas que nos agradam, dos amigos que passam a mão na nossa cabeça. De quem fala o que queremos ouvir. Não vale a opinião de terceiros, ao menos que da boca destes, saíam exatamente o que desejamos escutar.
Fechamos em nossa bolha, nossa espiral do silêncio. Criamos bloqueios para o novo, para a reflexão, a verdadeira filosofia, a busca para transcender o óbvio. No fundo, o mesmo mundo em que reclamamos, é o que nos conforta.
Menosprezados pessoas e/ou grupos, e valorizamos em exagero outros. Sempre buscando uma explicação não necessariamente racional para desmerecer os argumentos que não concordamos e chancelar o que concordamos ou queremos acreditar.
Encontramos justificativas para todos os nossos erros, falhas e defeitos, ou de quem por qualquer motivo queremos defender. Contudo, somos exageradamente intolerantes com nossos desafetos. "Para meus amigos tudo, para meus inimigos a lei". Essa é a frase que inconscientemente molda nossos pensamentos e nossas atitudes. Fácil dizer palavras bonitas, emitir opiniões, dar lição de moral. O difícil é fazer uma simples autorreflexão.
Queremos que todos se lembrem do nosso aniversário, mas nunca lembramos dessas datas quando se trata de nossos familiares, amigos e demais conhecidos. Minimizamos os detalhes que esquecemos, mas nunca quando se esquecem de nós.
Replicamos informações sem certificar minimamente sua veracidade. Ou mesmo, refletir, se o argumento aparentemente lógico tem fundamento. Não percebemos que uma pequena falácia que usamos como um dos pilares da fundamentação pode comprometer toda a ideia.
Precisamos demonstrar nossas qualidades, para nós mesmos e as demais pessoas. Exibir onde comemos, viajamos, fizemos. Do filme que assistimos até a cor das roupas íntimas. Tudo precisa ser divulgado. Opiniões seguindo o senso comum, sem o mínimo esforço para checar sua veracidade. Atitudes e palavras como necessidade de aceitação, de pertencer a um grupo. Como eternos adolescentes que necessitam de aprovação das pessoas. Do que se faz, ao que se respira. Por isso praticamos a sinalização da virtude. Expor ao mundo e a nosso ego que somos boas pessoas, que defendemos causas nobres, que "estamos do lado certo". Aparentamos, muitas vezes quando nossas atitudes contrapõem a ideia que transmitimos e propagamos. Somos a personificação da incoerência.
Por mais que se pregue a individualidade, o que ocorre é uma uniformidade. A padronização de tudo. Seguimos rigorosamente a cartilha que nos é imposta, mesmo vendendo a imagem de pessoas autossuficientes e acima de tudo, originais.
Seguimos os ensinamentos religiosos apenas quando é do nosso interesse. Não nos preocupamos em entender todos os ensinamentos, os princípios da igreja ou religião que seguimos. E muitas vezes, aprofundamos o conhecimento religioso com pessoas erradas. É mais fácil seguir a distorção do que o princípio original. Buscamos os ingredientes que nos interessa no pacote, nunca ele completo.
Distorcemos o contexto quando conveniente. Criamos um milhão de justificativas para o injustificável para defender um ponto de vista, uma ideia ou alguém.
Quantas vezes realmente há uma análise profunda sobre qualquer situação? Quantas fontes analisamos antes de formar opinião sobre algo ou replicar ideias, contextos, mensagens. Somos os críticos e maiores propagadores das fakenews.
Quão realmente paramos para ouvir as demais pessoas?
Um único livro - nem sempre tão bem lido - sobre um tema nos torna peritos no assunto. Um filme, um documentário, uma música, um corte de uma entrevista, um post questionável de uma página em qualquer rede social. Não há debates de possibilidades, direito de resposta, contraponto. A informação que massageia nosso ego é o suficiente para sermos donos da verdade. Muitas vezes, de forma categórica, contundente. Somos os sabichões, sem na verdade saber nada.
Idolatramos e supervalorizamos opiniões, atitudes e posicionamentos de artistas e demais influenciadores. Projetamos neles aspectos que gostaríamos de ser e ter. Bajulamos o que dizem, acreditando ser totalmente verdade, ou peritos em qualquer assunto. Não questionamos que estes, também são falhos, podem cometer equívocos, se confundir, ter atitudes questionáveis como qualquer ser humano. Não são donos da verdade ou conhecedores profundos de todos os temas. E nem todos são transparentes em suas ações e condutas.
Acreditamos cegamente em parentes, amigos, professores, vizinhos, colegas de trabalho. Não refletimos sobre os motivos que os levam a determinadas opiniões, atitudes, posturas. Damos autoridade a grupos de pessoas e desprezamos outras.
Sem dúvidas a formação acadêmica é importante, contudo, há um deslumbre exagerado em algumas pessoas e grupos. Seja pelo seu grau de instrução, certificados que apresenta, cargos que ocupam ou mesmo número de seguidores. Aplaudimos os argumentos aparentemente bem construídos, sem olhar o outro lado, os diversos pontos de vista. Gostamos de ser iludidos pelo marketing, a imagem perfeita. Mas criticamos o mundo de aparências em que nos encontramos.
Medimos as pessoas e coletivos pela nossa régua. Cada vez mais torta, desgastada e imprecisa. Mas não somos inteligentes o bastante para entender esse aspecto.
Fazemos mal ao próximo, porém, enchemos a boca para dizer o quão bom somos "pessoas do bem". Além de criticar assiduamente a "maldade do mundo".
Olhamos apenas para nosso próprio umbigo, mas pregamos o altruísmo. Não queremos ser, apenas aparentar.
Indignados com as injustiças do mundo, porém, somos seletivos nas indignações. Nem tudo é digno de defesa, de um like, de uma manifestação na rede social.
Somos os primeiros a levantar a bandeira contra as injustiças, mas nos calamos convenientemente quando alguma delas nos beneficia.
Baseamos nossas convicções em elementos questionáveis. No que diziam e acreditavam nossos pais, professores, mentores ou simplesmente alguém que aparentava ser inteligente, sensato ou legal. Não questionamos que muito do que acreditavam era fruto do seu tempo, do seu contexto. Sem contar que também eram imperfeitos, e suas convicções, atitudes e ensinamentos também.
Dos progenitores aos artistas. De professores a Youtubers. Dos amigos aos jornalistas. Dos contadores aos escritores. Dos mais jovens aos mais velhos. Todos podem estar completamente enganados no que acreditam. Seja por motivos diferentes. Mas quando convém, assim entendemos, quando não convém, somos guiados cegamente por eles.
Todos estão sujeitos a se calarem, por medo, covardia ou conveniência.
Toda a opinião tem uma causa, seja nobre ou não. Qualquer pessoa acima de qualquer suspeita está suscetível a más intensões. Um discurso, uma frase, a propagação de uma ideia de forma não sincera. Visando seus próprios interesses, seu egoísmo, ou simplesmente para ser aceito.
Toda a palavra é tendenciosa, contaminada. Nem este texto está aquém dos defeitos humanos.
É preciso entender o contexto, as possibilidades, os interesses que levam alguém a qualquer atitude ou fala. Ou a não as ter.
Muitas vezes acreditamos, tomamos como verdade, compartilhamos, palavras e ideias de pessoas questionáveis, com atitudes demagogas, até de mal caratismo. Nos sentimentos importantes, sem perceber que chancelamos a hipocrisia, o ridículo, o erro.
A vendedora da loja provavelmente dirá que a roupa combinou com você. Um vendedor de um aparelho eletrônico não irá apontar os defeitos dos produtos que vende. Mas nós, nos considerando pessoas espertas, acreditamos neles. Somos envolvidos constantemente. Mergulhamos na cegueira de desinformações, abraçamos as ilusões. Todos os dias damos um passo para o mais profundo interior da caverna de Platão, no entanto, acreditamos que enxergamos de fora dela.
Nunca a humanidade teve disponível tantos recursos. É fato que o acesso à informação, a tecnologia, os avanços científicos desenvolveram. No entanto, a hipocrisia, a mesquinhes, a podridão humana, se não aumentando, no mínimo manteve-se estagnada. Mas cada vez em maior evidência.
Acusamos nossos adversários de seus maniqueísmos, sem olhar para os nossos próprios maniqueísmos, muitas vezes mais radicais e irracionais do que os do que acusamos.
É preciso tempo para análise interior, a introspecção. Dialogar internamente, sem pensar nas opiniões alheias. Buscar ser uma pessoa melhor. O mundo não está bom, e provavelmente está na hora de acordar. De buscar uma melhora efetiva, não superficial. Uma evolução interna, não para alegrar grupos e pessoas. Usar o cérebro para raciocinar. Se esforçar para quebrar os paradigmas. Enxergar os fatos com atenção.
Olhar para os exemplos, e absorver os bons, e não cometer os erros dos ruins. Observar o que deu errado no mundo, as atitudes que levaram aos desastres e evitá-las. Ouvir as versões dos fatos, as várias versões da história. Não comprar a primeira ideia. Questionar tudo e todos.
Muitas vezes não se corrige os erros por não procurar entender os motivos que levaram aos fatos. Porque um relacionamento não deu certo, ou porque não foi convidado para um evento, os motivos de uma briga, de uma demissão no emprego, do aumento do preço da cesta básica, dos motivos e a forma que levaram um time a perder ou ganhar. É preciso compreender o que está por trás da estampa, do superficial.
Estamos preocupados com a "Sinalização da virtude", em expor nossa imagem de "pessoas do bem", deixando de lado nossa própria coincidência, nossa capacidade de refletir, o senso crítico, a autocrítica. Somamos para a sociedade hipócrita em que vivemos. Donos da verdade. Não dando o braço a torcer em nossa teimosia. Em ideias cheias de vazio. Com soluções e explicações para tudo, e muitas vezes não conseguindo resolver um simples problema com o vizinho.
Somos a sociedade que falhou, mas isso não é inevitável.
Sobre o Autor:

Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto. Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.




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