Nem todo o vinho melhora com o passar do tempo - (Victor Garcia Preto)



Sobre o Autor: 
Victor Garcia Preto   
Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto.  Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.

              




Esse texto não é uma análise técnica sobre vinhos, bebidas alcóolicas ou algo semelhante. Tampouco sou especialista, sommelier ou alguma profissão relacionada. O que farei será uma analogia, fruto de reflexão e observações. Espero que entendam a proposta e apreciem a discussão proposta nessa obra.


Acreditei durante parte da vida, que o vinho, quanto mais "velho", antigo; melhor. Ou seja, a bebida se aperfeiçoa com o passar do tempo. O que é uma meia verdade.


O fato, é que para se tornar uma bebida de melhor qualidade, o vinho - e outras bebidas - precisam permanecer em condições ideais. No recipiente correto, na temperatura certa, na posição correta, com a iluminação adequada. Deixar uma garrafa qualquer de vinho de maneira aleatória na estante de casa não a tornará uma bebida melhor; possivelmente, o tempo irá deixá-la até pior.

 
A ideia de que basta a passagem de tempo para aprimoramento, é completamente equivocada. O mesmo vale para o ser humano. 


Alguns evoluem com o passar dos anos, outros estagnam, e um percentual considerável regride. Por mais cruel que isso possa parecer, é a realidade.


Muitas pessoas eram mais sensatas, equilibradas e possuidoras de outras virtudes aos dezesseis, do que aos vinte. Aos vinte, e não as vinte e cinco. Aos trinta, e não aos sessenta. Sem dúvidas, o oposto ocorre com outros, onde a passagem do tempo torna pessoas com cada vez mais virtudes. Aprendem com os erros e não se perdem em seus desejos.


Na alusão, cada garrafa de vinho é única. Mesmo que algumas compartilhem da mesma qualidade de uva, da mesma garrafa, do mesmo método de fabricação e outros fatores similares. Algumas garrafas podem inicialmente serem muito parecidas com outras, mas na prática, todas são diferentes e irão maturar de forma diferente.


Outra comparação parecida e a qual faz sentido é com a questão das frutas. Dependendo o modo com que é apanhado do pé ou que permanece no pé, as condições em que são mantidas, há frutas que jamais amadurecem, apenas apodrecem. Algumas se mantém verdes, outras atingem o maior ponto de maturidade. Há frutas, como a manga, que são apreciadas ainda verdes, geralmente para se comer com sal. Algumas frutas não podem amadurecer muito, outras é impossível se comer antes do ponto total de maturidade.


Escolha o exemplo que preferir, para a comparação. Essas alegorias mostram com fato que o tempo não faz com que todos se aperfeiçoem. É curioso como qualquer individuo - e me incluo - pode trocar os pés pelas mãos a qualquer momento da vida.


É preciso tomar cuidado para não apodrecer, o simplesmente cair de maduro. Talvez permanecer verde para sempre também não seja o ideal.


Alguns vinhos, por estarem nas condições especiais, se tornam melhores e mais valiosos com o passar do tempo. Contudo, no caso dessa bebida, o tempo pode fazê-lo perder as propriedades originais, se transformando no famoso "vinagre balsâmico'. Até mesmo o vinho, corre o risco de se transformar em vinagre, embora para alguns essa "transformação" possa ser o melhor caminho, o objetivo e meta a serem alcançados, enquanto para outros o pior. 


Cada individuo tem sua peculiaridade, o que é ideal para um, não necessariamente será para outro. Há pessoas que sonham a vida toda em se casarem e terem filhos, enquanto outros, exatamente ao contrário. O que é uma meta e realização para uns, será a frustração de outros. Acontece essa forma em todos os âmbitos e categorias.


Existem vinhos para situações, climas e combinações gastronômicas distintas. Por isso não se pode esperar que um vinho com determinadas especificações, se torne ideal para as propriedades de uma bebida de outra finalidade. Não se pode - ou pelo menos não deveria - impor ao ser humano regras precisas de como deve agir, como conduzir sua vida, como se houvesse uma estrada determinada. 


A vida não é uma receita de bolo. As pessoas são diferentes, com necessidades, características e metas distintas. Um bom vinho não necessariamente agradará a todos, será a preferência e tão pouco é adequado para todas as ocasiões. Isso não impede de ser de ótima qualidade. Embora existam critérios bem claros para se avaliar na bebida, o aroma é um exemplo, o melhor também entra no campo da subjetividade. Não significa que o mais caro, certamente será o melhor ou o que mais agrada. Tão pouco o país de produção. Embora todos saibam que vinhos chilenos e italianos em geral possuem ótima qualidade, não significa que sempre serão melhores que produções de países menos conceituados.


De alguma forma, mesmo com adversidades, todos os vinhos tem oportunidade de se aprimorarem, mas é preciso encontrar as condições. O tempo por si só não lapida ninguém, não transforma a pedra bruta em joia.
Quando pensamos em seres humanos, o tempo tem aspectos de subjetividade, pois há quem amadureça mais rápido que outros, passam por processos e experiências com maior frequência e intensidade com outros. Torna-se simplório julgar experiência, maturidade e capacidade, apenas pela idade física.


Os vinhos podem passar por processos distintos e de variedades de uvas. Por isso seu aperfeiçoamento não segue a mesma métrica. Com humanos, possuindo uma quantidade muito maior de variações, a questão é muito mais complexa. Mesmo as classificações de vinhos podem variar de acordo com região. Em Portugal, por exemplo, existe uma qualidade exclusiva, o vinho verde.


Há quem considere também vinho a fermentação com base de outras frutas, como a maçã (Chamado geralmente de "vinho de maçã"). Algumas classificações são subjetivas, dependem muito a intenção e do observador.
No caso dos seres humanos, o tamanho grau de complexidade, possibilita que possamos analisar em aspectos diferentes. Um individuo pode evoluir em algumas áreas, estagnar em outras e regredir em outras questões. Seria como se um vinho aprimorasse seu sabor, mas perdesse aroma, em uma exemplo muito simplório.


O tempo pode ser o melhor remédio, mas para quem sabe aproveitá-lo.
É possível quem ninguém consiga amadurecer em todos os aspectos, sem deixar falhas, mas é necessário o esforço para não estagnar ou regredir em questões básicas. Quando vejo pessoas chegando em idade em que se imagina alto grau de experiência, mostrando falhas em questões simples, as quais no passado tinha capacidade de agir de forma melhor, questiono se há sempre uma linha em ascensão ou a qualquer momento qualquer pessoa pode entrar em uma curva decadente.


Pessoas experientes se contradizendo a todo o momento, traindo ou indo contra tudo que propagaram a vida inteira, se deixando levar por discursos superficiais, dos quais já deveriam ter malícia o suficiente para desconfiar. Nem todos aprendem com os erros, e alguns desaprendem com os acertos. A experiência, conhecimento e outros atributos, não necessariamente ampliam o horizonte, podem também cegar, em sua soberba, ego e arrogância. Os triunfos podem gerar efeitos colaterais, apresentar defeitos que não se manifestavam anteriormente. O sucesso seduz para longe de sua essência, seja o financeiro, de status, poder, ou qualquer outro aspecto.
Nessa alegoria, não é quem bebe o vinho que tem ressaca, é a própria bebida.


Algumas bebidas já passaram. Há vinhos que eram melhores anos atrás, agora, há apenas resquícios do que já foram.




Direitos da imagem de capa:

"Mirror Mirror" originally published on DEFUZE Magazine
Photographer: Simone Chiappinelli
Model: Flavio Schettino
Stylist: Alessandro Crivellaro
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