Texto de Victor Garcia Preto
Sinceramente, inicio esse texto sem uma opinião concreta. Resolvi escrevê-lo como parte do que sempre proponho: abri espaço para a reflexão, geralmente silenciosa, entre os leitores.
Ao ler uma matéria do portal "Bol", no dia 16 de outubro de 2020, cujo o link está abaixo, comecei a refletir como as pessoas usam e manipulam qualquer informação para sustentar suas convicções.
Esse texto não se trata de juízo de valor e sim de refletir sobrem alguns pontos importantes do ser humano.
Ao ler essa matéria haverá um grupo que irá se espantar, não acreditar que uma moça de Igreja seguiu esse caminho, enquanto outro irá apoiar, dizendo que ela se libertou da alienação da Igreja. Haverá quem outros grupos, esses dois formam a maioria.
Uma ótica vê a Igreja ou a religião como elemento libertador, e a pornografia como uma prisão, se afundando em um vício. Outro grupo enxerga exatamente o oposto. O que para um liberta, para o outro é a alienação, a prisão, e vice-versa.
Escolhi um tema delicado propositalmente. No entanto, a questão do comportamento humano, linha de pensamento e reação a qualquer situação.
Na matéria apresentada, conta que a moça dedicou sua juventude a compromissos da Igreja e a pastoral. Ainda muito jovem se tornou pastora, exercendo o cargo por vários anos. Em algum momento decidiu mudar radicalmente de vida. Como no trecho abaixo extraído da matéria:
"Nikole Mitchell, que passou o início de seus 20 anos na igreja, onde estudava para virar pastora, está aproveitando todo o sucesso — além de uma bela grana — no site OnlyFans, popular na indústria do entretenimento adulto. Ela, que hoje tem 36 anos, cresceu em uma família batista no estado de Ohio, tornando-se mais religiosa a partir do momento em que entrou na universidade"
Conta ela que ainda que entre 2001 e 2007 se dedicou totalmente a Igreja, não tendo nenhum envolvimento com homens. Abandonou essa vida aos trinta e três anos de idade.
A matéria pode ser acessada através do link: https://www.bol.uol.com.br/entretenimento/2020/10/15/mulher-que-saiu-da-igreja-e-sensacao-do-onlyfans-e-fatura-bolada-por-mes.htm
É difícil afirmar a causa concreta que a levou a tamanha mudança de vida, porém, não tão difícil prever opiniões de pessoas - principalmente no Brasil - com relação ao caso. A grande questão está na observação que naturalmente pessoas e/ou grupos criam premissas estruturadas em informações, em exemplos, que não necessariamente se aplicam a totalidade e devem servir como evidência cientifica.
Da mesma maneira que muitas pessoas irão usar a informação obtida para construírem a ideia de que as Igrejas e religiões oprimem seus fiéis de tal forma que é natural a mudança brusca, ignoram os inúmeros casos de atrizes pornôs, garotas de programa e ligadas diretamente a sexualidade e sensualidade, que se mudam de vida, se tornando religiosos fervorosos, verdadeiras 'carolas'. Casos que ocorrem com homens e mulheres. Em contraparte, os que possuem uma cosmovisão oposta ignoram que há vários casos de pessoas criadas na Igreja ou em uma prática religiosa e por algum motivo são se sentem felizes. Não necessariamente a mudança é brusca ao ponto de se voltar para uma sexualidade vista como desregrada, contudo, muitas pessoas abandonaram as prática religiosas, por qualquer motivo. Há casos no Brasil de atrizes pornô que os pais são evangélicos, e que a filha também frequentou a Igreja.
Você deve estar se perguntando o porquê dessas informações. Quando li a matéria passei a refletir como as pessoas se posicionariam em um suposto debate sobre o tema. Mais uma vez deixando claro que a intenção não é um juízo de valor, mas sobre os elementos que o rodeiam. Em qualquer assunto polêmico - como mencionado acima - as pessoas olham apenas os fatos, evidências e ponderações que nos interessam. Outro aspecto é sempre generalizar, como se uma situação que vale para alguém e/ou para si mesmo seja regra geral. De opinião, conduta, etc...
Em um texto relativamente recente nesse mesmo portal (https://www.papicher.com/2020/09/e-se-fosse-outra-versao.html ), comento sobre o negacionismo. Esse termo que se recuse a negar - muitas vezes de forma inconsciente - o que não lhe interessa. As pessoas são negacionistas de alguma forma. Algumas mais que outras. Convicções do mundo estão naturalmente implícitas em qualquer situação. Teorias geralmente são bem fundamentas são feitas, se baseando nessas convicções e geralmente ocultando fatos, evidências, pontos de vistas, e outros aspectos.
Leia também >> E se fosse versão? | www.papicher.com |
O grande questionamento que faço é o seguinte: quem pode ditar as regras de conduta? Ter as verdades e explicações da humanidade?
Religiões e Igrejas, embora conectadas, não são a mesma coisa que espiritualidade, ou mesmo fé. Assim como a vida e história de vida de pessoas na prostituição ou pornografia vai além das atitudes.
O sexo, tão impactante na vida humana, é liberador ou aprisionador? Dependeria do modo como feito e exposto? Com quem e em que momento também faria sentido?
Um comportamento natural do ser humano (a prática e/ou desejo de sexo) independentemente de qualquer período ou localização histórica, visão cosmo política, gênero, preferências. O modo comum de gerar novos membros da espécie, não só a humana.
Alguém poderá dizer que o sucesso está no equilíbrio e ponderação. Nem um extremo, nem outro. Não está errado. No entanto, é preciso entender que existem situações na vida em que é impossível afirmar o que está totalmente correto. Por mais que tenhamos parâmetros e que alguns provavelmente estão mais certos que outros.
Outro aspecto é que nossa opinião tende a se basear em coletivismos. É difícil não pensar de forma igual ou muito parecida que pessoas que se convive. Seja colegas de escola, pessoas do ambiente de trabalho, Igrejas e instituições, ciclos de amizade em geral, etc...
Poucas pessoas tem personalidade para pensar e agir - de modo coerente ou não - de maneira individual, sem repetir e reformar o pensamento de manada. Poucas pessoas buscam questionar o além do senso comum. Basta ver como as pessoas aderem a movimentos nas redes sociais.
Independentemente da causa ser justa ou não, é comum ver o efeito manada em alguns situações, e os mesmos não se manifestarem em outras. O principal motivo é que algumas causas e campanhas são abraçadas por coletivismos e outras não.
É impressionante como muitas vezes a opinião está moldada na aceitação de uma pessoa, grupo ou ambiente, do que de fato a visão real e coerente das pessoas, baseando-se em fatos, evidências, depoimentos e outros elementos.
Dados estatísticos são usados apenas quando convenientes para reforçar o que se defende, quando não, podem ser ignorados, distorcidos ou simplesmente inventado. O ser humano mergulha no seu próprio ego, na soberba, no mundo em que cria e pelo qual prefere viver.
A moça da matéria no início do texto é muito mais do que uma pessoa que se dedicava a religião e a Igreja e posteriormente se voltou para trabalhos eróticos. É uma pessoa com muitas camadas. Independentemente de ter tomado ou não as melhores decisões, há motivos complexos, que a levaram a se dedicar tantos anos a Igreja e depois abandoná-la e partir para as atividades de certa forma opostas.
Muitas vezes lemos o resumo e queremos entender o livro todo. É um mal do ser humano.
Quando somos vítimas, nos sentimos prejudicados, mas pouco ligamos quando estamos na posição mais confortável.
Espero que tenha conseguido elaborar uma discussão um pouco mais complexa, fugindo daqueles debates superficiais.
Talvez ao ler esse texto não veja nenhuma conclusão. Sinceramente essa não foi minha pretensão, gostaria apenas de propor reflexão, como geralmente tento fazer em meus textos. Ir para o campo da ponderação, de tentar enxergar suas vertentes.
Sobre o Autor:

Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto. Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.




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