Sobre o Autor:

Formado em Ciências Contábeis. 29 anos, Resido Ribeirão Preto. Tenho um perfil de textos no Instagram: @textosinceros. Segue lá.
Um dia desses comecei a refletir sobre a absorção e mistura Cultural. Essa análise teve início após uma conversa sobre o modo com que se consome a gastronomia no Brasil. Na última década, o consumo da culinária japonesa, somada ao alto número da abertura de estabelecimentos especializados, criou uma popularidade que não existia em tantas fatias da sociedade, que anteriormente eram limitadas a pequenos nichos de descendentes ou simpatizantes da causa.
De certa forma, a Cultural oriental, principalmente a nipônica, ganhou proporções absurdas no Brasil ou em grande parte dele.
Seja nos mangás e animes, games, origamis, bonsais e na gastronomia. Em grande parte dos restaurantes sofisticados, adequados para bons programas, principalmente casais de namorados.
Um fato mencionado por qualquer pessoa minimamente entendida no assunto, é de que a maneira com que se consome a denominada gastronomia japonesa aqui no Brasil é muito diferente da consumida pelos japoneses. Ela sofreu um processo de "abrasileiramento".
Vários pratos são adaptados, inclusão de ingredientes e modo de preparo com alterações. O próprio Temaki, um dos pratos preferidos dos adeptos da gastronomia e meu também, não existe originalmente no Japão, sendo uma criação brasileira.
Por isso muitos envolvidos com gastronomia o criticam. Por fugir das origens. E passei a refletir. Até onde as críticas são cabíveis?
Usarei a gastronomia japonesa como um exemplo, traçando um exemplo com demais aspectos culturais e questões mais ampla. Esperando eu, ser claro o suficiente em minha linha de raciocínio. E questionando, embora sem uma conclusão completa sobre a tradição.
O Japão é um país milenar, de tradições e rica cultura. Na sua gastronomia não seria diferente. Tão interessante que se popularizou em grande parte do mundo. No Brasil - e em outros locais - essa tendência teve influência ao grande fluxo migratório nipônico.
O primeiro problema na reprodução fidedigna de qualquer elemento de outro país, está pelo simples fato de cada país ter suas peculiaridades, principalmente entre dois países tão distantes. Nesse caso, é improvável que no Brasil se faça pratos exatamente iguais ao Japão. Temperos diferentes, demais ingredientes, clima e outros fatores.
Por tanto, já se dificulta manter a originalidade nesse caso.
Os mais críticos dirão que se não possível uma replica, chegar o mais próximo possível do original. Comecei a refletir se esse "abrasileiramento" é mesmo um problema. Sou um alguém que gosta de conhecer e preservar se possível as origens, manter tradições, conhecer e valorizar a história.
No entanto valorizar tradições e se aprofundar na história, usando-a como exemplos no presente, não significa ser retrógrado ou não aceitar nenhuma mudança. Existem elementos a se conversar e outros não.
Nem tudo que perpetua deve ser conservado ou fazer esforço para tal.
Tentar viver no século passado é uma utopia e tolice. Embora fragmentos da vida nesse período possam ser aplicados nos dias atuais. Nem sempre é fácil encontrar a medida certa. Alguns tem mais resistência a mudanças. Muitos não por pensamento ideológico ou por ideais tradicionalistas, apenas para passar a ideia de superiores e serem contra as tendências, com a aparência de "não seguir modinhas ".
Bem questionável os motivos que levam as críticas. Embora seja evidente se tratar de uma questão ampla, com muitas variáveis a serem analisadas. Contudo, a grande pergunta que me faço é uma: "Qual o problema de se adaptar e complementar a gastronomia oriental?"
É provável que se um japonês nascido e vivido no Japão experimentar o que o Brasil transformou sua gastronomia, não goste e possivelmente até se ofenda. No entanto, é preciso explanar melhor a questão.
Por qual motivo esse cidadão não iria gostar?
É preciso analisar que as reações variam de indivíduo para indivíduo, e nem ao menos se pode afirmar que todos detestariam. Contudo, a tendência é que esse descontentamento se manifeste na maioria.
:A insatisfação se da pela comida feita no Brasil ser realmente inferior e fugir do melhor uso dos ingredientes ou pelo cidadão não estar habituado a novas experiências? Seja em sabor ou qualquer aspecto da vida.
É possível que um brasileiro não aprecie um prato da gastronomia japonesa feita de modo original. Não pela "versão brasileira" ser melhor, mas por estranhar o sabor. Não estar preparado e adepto as experiências tão diferentes do que está acostumado.
É discutível os motivos que levam a esse fato.
Outro exemplo, ainda gastronômico, está na Itália. A famosa e tradicional pizza do país europeu é muito diferente do consumido no Brasil e em outros locais do mundo. No Brasil há uma variedade de sabores e ingredientes no recheio muito maiores.
Os italianos podem não gostar da maneira com que os brasileiros principalmente transformaram suas pizzas. Por outro lado, já ouvi brasileiros que visitaram a Itália comentarem que não gostaram tanto das pizzas na Itália. Essa opinião pode ser reflexo de inúmeras variáveis. Expectativa alta criada, paladar restritivo a novas experiências e outros. A pizza da Itália não é mesmo tão Boa ou o brasileiro está acostumado com sabor diferente e abrasileirado que não é capaz de apreciar o sabor original? O mesmo pode acontecer com um italiano, incapaz de apreciar uma adaptação brasileira ou de outro lugar do mundo.
Se muitas vezes os brasileiros não estão preparados para novas experiências, por outro lado um italiano terá dificuldade em comer uma feijoada, misturando o prato principal com arroz, vinagrete e couve no mesmo prato. As barreiras culturais também podem ser um problema.
Preservar as tradições não precisa ser em detrimento de aprimorá-las e tentar novas experiências. Todo o ser humano está preso a barreiras culturais, seja de uma forma ou de outra. Mesmo que tente quebrar os padrões, desconstruir as tradições.
Por isso julgo interessante discutir e refletir sobre certas imposições. Tudo que virá moda criticar está passivo de desconfiança.
Para não ser injusto, é preciso também explorar melhor os motivos e argumentos as críticas do abrasileiramento da gastronomia japonesa. Esse texto usa a culinária como exemplo e até uma metáfora por assim dizer. No entanto, é possível interpretá-la literalmente. Por isso, embora muitos possam estar me xingando, resolvi buscar opiniões e informações para complementar o texto.
Tenho um amigo nascido no Brasil e filho de pai japonês e ainda morou por sete anos no interior do Japão e perguntei sua opinião sobre o assunto.
Ele, embora consuma restaurantes japoneses em nossa cidade, disse não gostar desse "abrasileiramento" e defende de que se devia buscar estudar a gastronomia japonesa original, para preservar suas características.
Sua reposta foi a favor de se preservar a gastronomia original feita no Japão. Acredita ser um erro a maneira com que o conceito é conduzido no Brasil. E que se deveria aprender com os que praticam as receitas originais.
Citou inclusive alguns exemplos, os quais não mencionarei aqui para não estender essa dissertação. Em resumo, é bem crítico e fiz questão de perguntar sua opinião e expô-la aqui para não deixar a ideia unilateral.
Contudo acredito que as ideias levantadas nessas linhas possuem o intuito de enriquecer a discussão.
Usando um exemplo mais fácil para conversar com vários outros temas. Espero que o texto faça o pensamento expandir, não limitá-lo. Mesmo estando o autor desse texto, certo ou errado.
PS: Se você acredita que esse texto fala (exclusivamente) de culinária, talvez precise lê-lo com outros olhos.
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